Na parábola da ovelha desgarrada, Jesus diz que o pastor se alegrou ao encontrar a ovelha que se separou do rebanho. Alegria que foi compartilhada com os vizinhos e amigos. “Alegrai-vos comigo, poque já achei a minha ovelha perdida” (Lc 15.6 b). Este “achei” significa que o pastor passou a noite procurando a ovelha desgarrada. Experimentou o frio da madrugada. A possibilidade de ser confrontado por lobos cruéis, que sempre estão à espreita do rebanho. Ao colocar a ovelha sobre os ombros, pensar-lhe as feridas, remover os espinhos e carrapatos, alisar o pelo úmido pelo sereno da noite, olhar nos seus olhos tristes de fugitiva, não consegue esconder a alegria do reencontro. Não consegue tirar-lhe a alegria de ser pastor. Esta é a sua vocação e vocação não gera tristeza ou agressividade. O verdadeiro pastor, chamado por Deus, para pastorear as ovelhas de Cristo, por mais rebelde que seja ovelha ou o rebanho, jamais dirá ou pensará: “essa ovelha jamais receberá o bálsamo do meu cajado e o cuidado da vara que uso para defendê-la dos perigos que corre dos lobos cruéis.”

Tal pastor ouvirá a repreensão do Senhor do rebanho a dizer-lhe: “Ai dos pastores que destroem e dispersam as minhas ovelhas do meu pasto, diz o Senhor” (Jr 23.1). É algo muito sério desprezar as ovelhas que foram confiadas aos cuidados de pastores humanos, para cuidar do rebanho de Cristo. A alegria que envolve o ministério pastoral desdobra-se e se renova em várias nuanças. Quando o pastor entra no quarto da UTI, onde sua ovelha geme de dor e, ao mesmo tempo, sorri ao ver seu pastor, no coração deste a alegria se renova. “Que bom vê-lo, pastor”, murmura a ovelha. Novo ânimo invade o coração da ovelha e no coração do pastor a gratidão pelo chamado se renova.

A leitura de um texto bíblico, próprio para a ocasião, seguida da oração pas-toral traz ao coração que sofre o consolo ministrado pelo Espírito Santo sob os cuidados pastorais. Não há como explicar esses momentos na vida pas-toral e no coração das ovelhas que são assistidas com amor. O pastor, às ve-zes, sabe que aquela ovelha jamais voltará ao templo para orar e agradecer com as demais ovelhas do rebanho. Mesmo assim prevalece a alegria de estar no centro da vontade de Deus, por assistir as ovelhas de Cristo. No céu não haverá mais o relacionamento pastor-ovelha-pastor, mas haverá a contínua alegria de todos estarem sob os cuidados do eterno Pastor.

A alegria do pastoreio advém do fato de o pastor saber que as ovelhas não lhe pertencem. Elas pertencem a Cristo, o supremo Pastor. O pastor é apenas alguém frágil e fraco, por natureza, a quem, por algum tempo, Cristo confia o cuidado das ovelhas ao seu ministério. Portanto não cabe ao pas- tor desprezar ou expulsar do rebanho as ovelhas de Cristo. Por mais rebelde que seja a ovelha ao pastor só resta amar e cuidar do rebanho que Cristo lhe confiou. Isto deve ser feito com alegria a gratidão, jamais como peso insuportável.

Pr. Julio Oliveira Sanches |OJB

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