As tradicionais teorias e práticas teológicas pastorais contemporâneas encontram-se em busca de novos horizontes. Têm sido contestadas pela emergência de novos sujeitos históricos. Quatro tarefas ao ministério pastoral na atualidade são imprescindíveis:

Primeira tarefa – relaciona-se à comunidade cristã, sendo o ambiente vital ao cuidado pastoral. A comunidade é um modelo alternativo ao individualismo presente em várias sociedades na atualidade. A igreja, fundamentada na natureza relacional do amor de Deus, é o circulo de relacionamentos que se abre para incluir o mundo através da comunhão. Infelizmente nem sempre a Igreja espelha os relacionamentos divinos através dos relacionamentos humanos. As igrejas podem ser tensas, fragmentadas, levadas pela discórdia e sujeitas às lutas de poder e a abusos. O perdão e a graça algumas vezes são escassos no seio da Igreja. A tarefa do ministério pastoral é criar uma comunidade que seja humana e reflita o amor de Deus. É irreal pensar ou acreditar que há possibilidade de uma comunidade perfeita, com ausência das contradições, fragilidades e pecados. Também é destrutiva uma atitude que ignore a possibilidade do crescimento na direção de relacionamentos marcados pelo amor a Deus e ao próximo. O ministério pastoral se alicerça no chão movediço das realidades humanas e na confiança na possibilidade da transformação. Para o estabelecimento de autêntica comunidade é necessária atenção pastoral à criação dos elos de confiança, como atitude a priori a ser desenvolvida através da solidariedade. Além disso, as pastoras e os pastores necessitam ampliar seus conhecimentos sobre resolução de conflitos interpessoais e métodos de reconciliação.

A segunda tarefa do ministério pastoral é a saúde relacional, ou seja, manter e nutrir a qualidade de relacionamentos no casamento e na vida familiar. O padrão cultural da competitividade contribui para a destruição de relacionamentos salutares. As habilidades necessárias para se preservar relacionamentos íntimos de qualidade são, basicamente, as mesmas desenvolvidas em quaisquer relacionamentos: comunicação clara e honesta, ouvir ativo, fidelidade, confiança, assumir o risco, perdão, aceitação do outro, assumir responsabilidade pessoal por erros e disposição para mudança. O cuidado pastoral pode ajudar as pessoas a repararem, renovarem e enriquecerem seus relacionamentos. A personalidade humana é formada, deformada e transformada em teias de relacionamentos. Tanto a cura, como o crescimento da pessoa, dependem da qualidade dos relacionamentos. Alguns problemas de pessoas, famílias, grupos e comunidades são resultantes de situações vividas no ambiente de trabalho. Por outro lado, há um tradicionalismo dissociado entre a espiritualidade anunciada e cantada nos cultos e o cotidiano dos membros das igrejas. Prevalece o padrão, “igreja aos domingos e trabalho na semana”. O mundo do trabalho é gerador de tensões, conflitos, dificuldades no relacionamento interpessoal, os quais repercutem no casamento, na família, nos convívios mais próximos e na saúde. O problema financeiro também contribui para gerar conflitos na família e o cuidado pastoral necessita contemplar esse momento para ajudar na saúde relacional.

Curar a “alma ferida” é a terceira tarefa do cuidado pastoral. A depressão, em suas várias formas, pode ser identificada como estado recorrente caracterizada por melancolia, falta de energia vital, irritabilidade contínua, dificuldades com alimentação, insônia e outros. Atingiu níveis endêmicos em muitas sociedades contemporâneas. Várias causas são atribuídas à geração do estado depressivo. A depressão é considerada a “doença da alma”. No entanto, há outros sintomas que refletem “coisas da alma”, como ansiedade exagerada, episódios de pânico, baixa autoestima, baixo autorrespeito, processos de luto não elaborados, dificuldades na área da sexualidade, além de outros que confrontam a pessoa com a natureza e identidade de seu próprio ser, seu lugar no mundo e sua aceitação por outras pessoas e instituições. O fenômeno massivo de nosso tempo é, seguramente, o ocultamento cultural, cada vez mais torpe e o vazio de sentido, da dor extraordinária que inunda a existência. A solidão é um fator que provoca a ansiedade entre milhões de pessoas no mundo atual. Sendo assim, o ministério pastoral possui como tarefa o acompanhamento dos membros, observando atentamente qualquer evidência da “doença da alma”. Em algumas situações, a pastora e o pastor necessitarão de uma ajuda do profissional da saúde.

A última tarefa do ministério pastoral é a sustentabilidade da fé cristã. A contemporaneidade vive tempos de transição e de consequentes mudanças no perfil das igrejas, na expressão da fé e de trânsito frequente de membros das igrejas entre diferentes movimentos religiosos. É fundamental que os membros das igrejas sejam fortalecidos em sua identidade no que diz respeito a tornarem-se autênticos a partir dos princípios bíblicos e de cuidado mútuo. O cuidado pastoral brota do solo da adesão a Jesus Cristo e daí deriva seu caráter e sua feição. A volatilidade religiosa do mundo atual exige atenção ao risco de perder referências de raiz, de cooptar a cultura do descartável e a falta de compromisso. Atividades como estudos bíblicos, pequenos grupos de comunhão, apoio mútuo e estudos temáticos ajudam no fortalecimento dos fiéis, além de participação nos cultos e envolvimento nos ministérios da igreja. O ministério pastoral na atualidade precisa despertar e/ou continuar a prática da ação ministerial da igreja através dos membros.

Pastor e Professor Eduardo Getão

Mestre em Teologia

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