Se quisermos, podemos transformar a nossa vida em um poço de lamúrias, ficando ali submersos. Podemos também, elevando-nos dos queixumes mesquinhos, transformá-la em um hino de gratidão, em um canto sublime ao Deus Criador, cujas mãos não se acham encolhidas para nos abençoar. “Bem nenhum sonega aos que andam retamente” (Sl 84.11). Robinson Crusoe passou 27 anos como náufrago em uma ilha tropical. Parafraseando uma parte da introdução do seu diário, chamaríamos as suas listas: “lista de queixas” e “lista de agradecimentos”. Queixa: “Encontro-me desiludido e sem esperança, nesta ilha deserta”. Agradecimento: “Não me afoguei como o resto de meus companheiros de barco”. Queixa: “Não tenho roupa”. Agradecimento: “O clima é quente; se tivesse roupa, não poderia colocá-la”. Queixa: “Não tenho modos de proteger-me dos homens e das feras”. Agradecimento: “Aqui não vejo nenhuma besta selvagem que me possa ferir, ainda que as tenha visto na costa africana. O que teria acontecido comigo, se houvesse naufragado ali?”. Queixa: “Não tenho ninguém a quem pedir socorro”.

Agradecimento: “Deus levou o barco para tão perto da costa que tenho podido tirar todo o necessário para sobreviver durante o resto da minha vida”. Que pelo resto de nossa vida e, além dela, possamos cantar para sempre as misericórdias do Senhor, nosso Deus, como está escrito em Salmos 89.1. Há outra história que merece destaque. A do notável músico Frederick Handel. A rejeição pelos músicos de sua época, a morte do pai, a enorme dificuldade de publicar as suas composições, a falência que experimentou quando transferiu-se da Alemanha para a Inglaterra não abateram o genial artista. Pelo contrário, no seu cabal desespero, clamou a Deus e a resposta foi a inspiração para compor músicas maravilhosas, entre as quais, “O Messias”, que encanta o mundo todo. Que nos falte tudo, menos a gratidão, como bem expressou a sempre admirada poetisa Stela Câmara Dubois: “Oh, que me falte amparo nos escolhos / Falte-me o pão e a luz dos próprios olhos / Porém, nunca me falte a gratidão”. E esta gratidão uma vez concebida no coração, na vida, redundará, é certo, em amor a Deus e ao próximo. Resultará em ações altruísticas que operem no sentido de corrigir as desigualdades sociais. “É somente no amor que o desigual pode ser feito igual”, afirmou o filósofo Kierkegaard. Portanto, que não fiquemos prostrados, chorando às margens dos rios da Babilônia, mas nos levantemos, retomando as harpas dependuradas, para exaltar a Deus e abençoar o próximo, pois, com efeito, “Grandes coisas fez o Senhor por nós; por isso, estamos alegres” (Sl 126.3).

Edgar Silva Santos, pastor
da Primeira Igreja Batista
Jardim Mauá – Manaus – AM
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